Universidade Federal do Amazonas Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Departamento de Apoio à Pesquisa Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Distribuição espacial da fauna de camarões nos igarapés do Campus da Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Amazonas. Bolsista: Luany Oliveira de Almeida – CNPq/Ren. Manaus 2009 2 Universidade Federal do Amazonas Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Departamento de Apoio à Pesquisa Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica RELATORIO FINAL PIBIC: PIB-B/059/2008 Distribuição espacial da fauna de camarões nos igarapés do Campus da Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Amazonas. ________________________________________ Bolsista: Luany Oliveira de Almeida ___________________________________________ Orientador: Dr. Marcelo Menin Manaus 2009 3 RESUMO Características estruturais do ambiente podem afetar a distribuição espacial e a composição de comunidades de animais ou de vegetais. Para os organismos aquáticos, os parâmetros físico-químicos da água podem afetar a distribuição e composição de espécies. O presente estudo teve por objetivo avaliar os efeitos do tamanho do igarapé, concentração de oxigênio, temperatura, pH e velocidade da correnteza da água sobre a fauna de camarões dos igarapés do Campus da UFAM. Foram estabelecidas 10 parcelas de 50 m em igarapés de primeira ordem. As coletas foram realizadas em julho e outubro de 2008 e fevereiro e junho de 2009. Os camarões foram coletados por meio de armadilhas do tipo covo. As variáveis ambientais foram medidas no ponto de fixação de cada armadilha. Os efeitos dessas variáveis ambientais sobre a abundância da espécie mais abundante e sobre a riqueza das espécies foram avaliados por regressão múltipla. Foram encontradas quatro espécies: Macrobrachium inpa, Macrobrachium nattereri, Macrobrachium ferrerai e Pseudopalaemon amazonensis, totalizando 1026 indivíduos. A espécie mais abundante foi M. inpa, representando 69,4% dos indivíduos coletados, seguida de M. nattereri com 16,5%, M. ferrerai com 11,3% e P. amazonensis com 2,8%. Não houve relação significativa entre os parâmetros ambientais estudados e a abundância de M. inpa e a riqueza das espécies nas parcelas de amostragem. Um número maior de indivíduos foi encontrado durante a estação seca, provavelmente pelo menor volume de águas nos igarapés. As espécies mais comuns e as menos abundantes encontradas no presente estudo correspondem às encontradas em estudos anteriores desenvolvidos em corpos d’água de maior porte na Amazônia Central. Os fatores avaliados no presente estudo indicaram influência pequena sobre a fauna de camarões na área de estudo. Resultados similares foram obtidos com comunidades de peixes de igarapés da Amazônia Central em outros estudos, provavelmente devido ao fato destes parâmetros físico-químicos variarem pouco e em pequenas escalas nos igarapés do Campus da Ufam. 4 SUMÁRIO 1.0 Introdução ........................................................................................................... 06 2.0 Material e Métodos .............................................................................................. 09 2.1 Área de estudo ..................................................................................................... 09 2.2. Delineamento amostral e método de coleta de dados ......................................... 09 2.3 Variáveis ambientais ............................................................................................ 10 2.4 Identificação do material coletado ...................................................................... 11 2.5 Análise de dados .................................................................................................. 11 3.0 Resultados............................................................................................................. 13 4.0 Discussão ............................................................................................................. 16 5.0 Conclusão ............................................................................................................ 18 6.0 Referências .......................................................................................................... 19 7.0 Cronograma de Atividades .................................................................................. 21 5 Todos os direitos deste relatório são reservados à Universidade Federal do Amazonas, ao Núcleo de Estudo e Pesquisa em Ciência da Informação e aos seus autores. Parte deste relatório só poderá ser reproduzida para fins acadêmicos ou científicos. Esta pesquisa, financiada pelo Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq, através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal do Amazonas, foi desenvolvida no Instituto de Ciências Biológicas como sendo parte do programa de iniciação cientifica PIBIC. 6 1. INTRODUÇÃO A Ecologia estuda a relação entre os organismos e seus ambientes e o mais importante relato que se pode fazer sobre essa relação é que as espécies não se distribuem aleatoriamente, há uma correspondência entre os padrões de distribuição das espécies e as características estruturais do ambiente (BEGON et al., 1996). Diversos estudos foram realizados em diferentes áreas tropicais, com diversos grupos taxonômicos, para avaliar os efeitos das variáveis ambientais sobre os padrões de abundância e ocorrência das espécies. Alguns destes trabalhos foram desenvolvidos na Amazônia Central com plantas de sub-bosque (COSTA et al., 2005), invertebrados aquáticos (FIDELIS et al., 2008), peixes (MENDONÇA et al., 2005; PAZIN et al., 2006), anuros adultos (MENIN et al., 2007) e girinos (RODRIGUES, 2006). Para os organismos aquáticos as características físico-químicas da água e as características estruturais dos corpos d’água podem determinar a riqueza, distribuição e abundância das espécies (CLETO-FILHO, 2003; FIDELIS et al., 2008). Estudos realizados na Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus, mostraram que as características da água e tamanho do corpo d’água podem afetar a distribuição e/ou a composição das espécies de peixes em poças e igarapés de terra-firme (MENDONÇA et al., 2005; PAZIN et al., 2006). Entre as características físico-químicas da água que podem determinar a distribuição das espécies, encontra-se a disponibilidade de oxigênio que pode influenciar a distribuição e a abundância de espécies de invertebrados de água doce, como tricópteros dos gêneros Phylloicus, Helicopsyche e Marilia, considerados indicadores biológicos de águas de boa qualidade (CLETO-FILHO, 2003). Entre as características estruturais dos corpos d’água, a velocidade da correnteza e o tipo de substrato dos igarapés podem afetar a distribuição de macroinvertebrados de 7 água doce, como insetos aquáticos, em igarapés de primeira, segunda e terceira ordens na Amazônia Central (REZENDE, 2007; FIDELIS et al., 2008). Dentre os invertebrados de água doce, também se encontram os crustáceos da Ordem Decapoda, representados pelos camarões dulcícolas. Dos camarões de água doce no Brasil, a família Palaemonidae possui 13 espécies ocorrentes na bacia Amazônica, sendo Macrobrachium o gênero com maior número de espécies, representado por sete espécies (MELO, 2003; VALENCIA & CAMPOS, 2007). A distribuição desses crustáceos de água doce também pode ser determinada pelos parâmetros físico-químicos da água e estrutura corpo d’água (CLETO-FILHO, 2003; FIDELIS et al., 2008; REZENDE, 2007). Em igarapés com maior volume, o número desses indivíduos é maior, provavelmente devido à maior disponibilidade de alimento, diminuindo assim, a competição intra-específica (BUSSING & LÓPEZ, 1977). O tipo de substrato e a velocidade da correnteza de igarapés de pequena ordem na Amazônia Central também podem determinar os padrões de distribuição desses decápodes (REZENDE, 2007). Estudos mostraram que algumas espécies de camarões, como Macrobrachium inpa, Macrobrachium nattereri e Pseudopalaemon amazonensis são bioindicadores de qualidade de água (CLETO-FILHO, 2003). Essas espécies foram coletadas apenas em trechos de igarapés não poluídos na Amazônia Central, onde a água apresentava boas condições de oxigênio dissolvido, temperatura, pH, condutividade elétrica e sedimentos em suspensão, indicando assim, o bom funcionamento de ecossistemas (CLETO- FILHO, 2003). Apesar da grande importância que esses decápodes têm para o consumo humano e nos processos ecológicos dos ambientes aquáticos (MAGALHÃES, 2000; BELTRANS-PEDREROS et al., 2008), os fatores determinantes da composição das 8 comunidades desses decápodes ainda não são bem conhecidos. A maioria dos estudos realizados sobre camarões trata de espécies marinhas, enquanto os dulcícolas têm recebido pouca atenção da comunidade científica, com exceção de estudos taxonômicos (MAGALHÃES, 2000; MELO, 2003). Essa falta de estudos científicos contribui para que haja um conhecimento fragmentado sobre os decápodes existentes nos principais corpos d’água do Brasil, dificultando estudos sistemáticos, inventários faunísticos e o conhecimento de aspectos biológicos e ecológicos desses animais (GARCÍA-DÁVILA & MAGALHÃES, 2003; ROCHA & BUENO, 2004). O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos dos parâmetros ambientais sobre a distribuição espacial das espécies de camarões dos igarapés do Campus da Universidade Federal do Amazonas. Os parâmetros ambientais considerados neste estudo foram a largura e profundidade do igarapé, disponibilidade de oxigênio, temperatura e pH da água e velocidade da correnteza dos igarapés. 9 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de estudo Este estudo foi realizado no fragmento florestal do Campus da Universidade Federal do Amazonas – UFAM (03º04’34”S, 59º57’30”W), que possui aproximadamente 600 ha, localizado na cidade de Manaus. A paisagem do Campus é composta por platôs, vertentes e baixios por onde correm vários igarapés que em sua maioria tem sua nascente localizada dentro da área do campus que é coberta por floresta tropical de terra-firme, florestas de crescimento secundário, campinaranas e áreas desmatadas (NERY et al., 2004). 2.2 Delineamento amostral e método de coleta de dados Foram selecionados 10 igarapés de primeira ordem distribuídos pelo Campus da UFAM (Figura 1) em áreas de floresta primária e secundária. Em cada igarapé foi estabelecida uma parcela de amostragem permanente com recursos financeiros do CNPq (processo 470375/2006-0). Um trecho de 50 m foi selecionado em cada igarapé onde foram realizadas as coletas dos camarões e as medições das características estruturais dos igarapés e dos fatores físicos e químicos da água. Os camarões foram coletados por meio de armadilhas do tipo covo (RIBEIRO & ZUANON, 2006), iscadas com lingüiça e sardinha. A cada 10 m, dentro do trecho selecionado de 50 m, foram fixadas duas armadilhas (totalizando 6 pontos de coleta dentro de cada igarapé) colocadas no fim da tarde de um dia, entre as 16 e 17 horas e retiradas no início da manhã do dia seguinte por volta das 8 horas. Foram realizadas duas amostragens no período seco, nos meses de julho e outubro de 2008, e duas no 10 período chuvoso, nos meses de fevereiro e maio de 2009. 2.3 Variáveis ambientais As variáveis ambientais medidas neste estudo compreendem a largura, profundidade e substrato do igarapé, temperatura, pH, disponibilidade de oxigênio e a velocidade da correnteza da água. Todas as variáveis foram medidas no ponto de fixação de cada armadilha. A largura foi medida com uma trena graduada em metros. A profundidade foi medida a cada 20 cm dentro da extensão da largura do ponto de coleta. A temperatura e o oxigênio foram medidos por meio de um oxímetro portátil Figura 1. Imagem de satélite do Campus da UFAM mostrando os igarapés onde as coletas dos camarões foram realizadas (P01 a P10). Fonte: Organização Sâmia Amorim de Vasconcelos. 11 (Hanna modelo HI 9147) e o pH por um phmetro portátil (Hanna modelo HI 991301). A velocidade da correnteza foi medida em um trecho de 1 metro, onde foi liberada uma bolinha de isopor e foi marcado o tempo que esta levou para percorrer o trecho selecionado, sendo posteriormente calculada a velocidade média da correnteza. Em cada ponto de fixação das armadilhas esse procedimento foi realizado três vezes para ser retirada uma média. 2.4 Identificação do material coletado Todo material coletado foi levado para o Laboratório de Zoologia da UFAM e armazenado em sacos plásticos contendo álcool 70%, devidamente etiquetados. A identificação do material foi realizada com o uso de chaves de identificação de MELO (2003) com orientações do MSc. Tomaz Lima Gualberto, técnico do Laboratório de Zoologia da UFAM. 2.5 Análise de dados Os efeitos das variáveis independentes (tamanho do igarapé, temperatura, disponibilidade de oxigênio na água, pH e velocidade da correnteza) sobre a abundância das espécies mais comuns e sobre o número de espécies em cada parcela foram avaliados por regressões múltiplas (modelo da regressão: Abundância da Espécie ou Número de espécies = a + Tamanho do igarapé + Temperatura + O2 dissolvido na água + pH + Velocidade da correnteza). A abundância considerada nas análises foi a abundância média de cada espécie em cada parcela de amostragem, baseada nas duas amostragens realizadas em cada 12 estação, padronizadas por Log (x + 1). O número de espécies foi estimado como o número total de espécies obtido em todas as amostragens. Os modelos foram gerados apensas sobre a abundância das espécies que ocorreram em pelo menos 80 % das parcelas. Antes de testar os modelos de regressão, as variáveis independentes foram avaliadas quanto à colinearidade por correlação de Pearson. Nas amostragens do período seco, as variáveis tamanho do igarapé e temperatura (r= 0,71) e pH e velocidade da correnteza da água (r= 0,60) apresentaram altos valores de correlação, portanto as variáveis tamanho do igarapé e velocidade da correnteza foram eliminadas dos modelos. Os valores obtidos de correlação entre as outras variáveis foram menores que 0,37. Nas amostragens do período chuvoso, a variável disponibilidade de oxigênio e velocidade da correnteza (r= 0,63) foram autocorrelacionadas, portanto a variável velocidade da correnteza foi eliminada dos modelos. Não foram obtidos altos valores de correlação entre as demais variáveis. As análises foram realizadas com o uso do programa SYSTAT 8.0. 13 3. RESULTADOS 3.1 Parâmetros ambientais dos igarapés Nas amostragens do período seco, a largura dos igarapés variou de 0,83 a 1,39 m (Média=1,0 m, DP= 0, 17); a profundidade média de 0,10 a 0,20 m (Média= 0,10 m, DP= 0,13). A média da disponibilidade de oxigênio dissolvido foi de 3,2 mg/L (DP= 1.15, mínimo= 1,4, máximo= 5,0 mg/L), a média do pH de 4,4 (DP= 0.25, mínimo= 4, máximo= 4,8), a temperatura média de 25,4 (DP= 0.51, mínimo= 24,7, máximo= 26,2°C) e a média da velocidade da correnteza de 0,4 m/s (DP= 0.22, mínimo= 0,1, máximo= 0,8 m/s). Nas amostragens do período chuvoso, a largura dos igarapés variou de 0,85 a 2,20 m (Média=1, 27 m, DP= 0, 17); a profundidade média de 0,08 a 0,18 m (Média= 0,12 m, DP= 0,13). A média da disponibilidade de oxigênio dissolvido foi de 4,1 mg/L (DP= 0,72, mínimo= 3,5, máximo= 5,0 mg/L), a média do pH de 4,4 (DP= 0,41, mínimo= 3,6, máximo= 4,9), a temperatura média de 25,1 (DP= 0.21, mínimo= 24,8, máximo= 25,6°C) e a média da velocidade da correnteza de 0,09 m/s (DP= 0,08, mínimo= 0,1, máximo= 0,8 m/s). 3.2 Fauna de camarões: Dos 1026 indivíduos coletados, foram encontradas quatro espécies de camarões pertencentes à dois gêneros da família Palaemonidae: Macrobrachium inpa, Macrobrachium nattereri, Macrobrachium ferrerai e Pseudopalaemon amazonensis (Tabela 1). 14 Nas amostragens realizadas durante o período seco, M. inpa ocorreu em 80% das parcelas, M. nattereri em 40%, enquanto M. ferrerai e P. amazonensis foram coletadas somente em 20% das parcelas de amostragem (Tabela 1). A espécie mais abundante foi M. inpa, representando 72,6% dos indivíduos coletados, seguida de M. nattereri com 15,8%, M. ferrerai com 7,6% e P. amazonensis com 4%. Nas amostragens do período chuvoso, M. inpa também ocorreu em 80% das parcelas; da mesma forma, M. nattereri ocorreu em 40% das parcelas, enquanto que M. ferrerai foi mais freqüente nas amostragens deste período, ocorrendo em 30% das parcelas e P. amazonensis ocorreu apenas em 20% das parcelas como já registrado nas coletas realizadas no período seco (Tabela 1). M. inpa também foi a espécie mais abundante nestas amostragens, representando 65,2% do total de indivíduos coletados, seguida de M. nattereri com 17,4%, M. ferrerai com 15,4 e P. amazonensis com 1,5%. Houve variação no número de indivíduos coletados entre os meses de coleta, com maior abundância registrada para a primeira amostragem (período seco) realizada nos meses de Julho e Outubro de 2008 (Tabela 1). Tabela 1. Número de parcelas onde as espécies de camarões de água doce foram encontradas e número de indivíduos coletados por meio de armadilhas de covo em julho e outubro de 2008 (período seco) e em fevereiro e junho de 2009 (período chuvoso) no Campus da Universidade Federal do Amazonas. Espécies Período seco Período chuvoso N° Parcelas N° indivíduos N° Parcelas N° indivíduos Macrobrachium inpa 8 417 8 295 Macrobrachium nattereri 4 91 4 79 Macrobrachium ferrerai 2 44 3 71 Pseudopalaemon amazonensis 2 22 2 7 Subtotal 574 452 Total 1026 15 3.3 Associação entre as variáveis ambientais e a abundância das espécies: As análises sobre a relação entre os fatores ambientais e a abundância foram concentradas em M. inpa que ocorreu em 80% das parcelas. O modelo não explicou a variação na abundância de M. inpa na amostragem do período seco (R2 = 0,700; F3,6 : 4,672; p= 0,052). Nas amostragens do período chuvoso, também não houve relação significativa entre as variáveis ambientais e a abundância de M. inpa (R2 = 0,564; F3,6 : 2,588; p = 0,148). Não houve relação entre a riqueza das espécies e os parâmetros ambientais avaliados neste estudo durante o período seco (R2= 0,607; F3,6: 3,08; p= 0,112) e período chuvoso (R2= 0,364; F3,6: 1,145; p= 0,404). 16 4. DISCUSSÃO Os igarapés amostrados no campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) apresentaram águas ácidas (pH = 3,6 – 4,9) e pouca variação de temperatura (24,7 a 26,2 °C), apresentando características similares às encontradas por Mendonça et al. (2005) nos igarapés da Reserva Florestal Adolfo Ducke, localizada a 20 km ao norte da área do campus da UFAM (pH: 3,7 - 4,8; temperatura: 21,8 - 25,8 °C). No entanto, as características encontradas diferiram quanto à disponibilidade de oxigênio dissolvido. A disponibilidade desse gás dissolvido nos igarapés do Campus (1,4 - 5,0 mg/l) foi baixa comparada a verificada nos igarapés da Reserva Ducke (5,45 - 9,42 mg/L; MENDONÇA et al. 2005). As espécies encontradas nos igarapés estudados corresponderam ao descrito para os igarapés da região Manaus (WALKER & FERREIRA, 1985; WALKER, 1994; CLETO-FILHO, 2003; MELO, 2003). Nos 10 igarapés amostrados, Macrobrachium inpa e Macrobrachium naterreri foram as espécies mais abundantes, enquanto que Macrobrachium ferrerai e Pseudopalaemon amazonensis foram menos abundantes. Walker (1994) e Walker & Ferreira (1985) também verificaram o predomínio de M. inpa e M. nattreri em suas coletas mensais por um período de quatro anos no Tarumã-Mirim, um igarapé de grande porte na Amazônia Central que sofre influência de pulsos de inundação como os rios amazônicos. O predomínio destas espécies em igarapés que apresentam características estruturais diferentes como o Tarumã-Mirim e os igarapés do Campus, pode indicar que estas espécies sejam realmente comuns entre a fauna de camarões de igarapés de terra-firme. No presente estudo, M. ferrerai e Pseudopalaemon amazonensis foram as espécies menos abundantes. Walker & Ferreira (1985), também verificaram uma baixa 17 freqüência de P. amazonensis nas coletas realizadas no Tarumã-Mirim, com maior abundância dessa espécie durante a enchente, quando o nível da água estava mais alto (junho). Já nos igarapés do Campus esta espécie apresentou um número maior de indivíduos coletados durante a amostragem do período seco, principalmente em outubro. Com exceção de M. ferrerai, todas as espécies foram mais abundantes durante o período seco, provavelmente porque, como neste período as chuvas são menos frequentes, o volume de água nos igarapés não varia constantemente, logo a água se concentra principalmente no leito dos riachos e dessa forma, a fauna de camarões também se encontra agrupada no leito do igarapé, proporcionando maior eficiência nas coletas, tornando-se, portanto, mais abundante em relação ao período de chuvas. Não houve relação entre os parâmetros estudados e os padrões de abundância de M. inpa na estação seca e chuvosa. Possivelmente, os fatores avaliados no presente estudo têm pouca influência sobre a fauna de camarões dos igarapés estudados, assim como sobre comunidades de peixes de igarapés, porque estes fatores variam pouco e em pequenas escalas nos igarapés em ambientes de florestas (MENDONÇA et al., 2005). 18 5. CONCLUSÃO A fauna de camarões dos igarapés do fragmento florestal do campus da UFAM corresponde às espécies já identificadas para a região de Manaus. A maior abundância de camarões foi registrada para o período seco e os parâmetros ambientais analisados não ajudaram a entender a riqueza das espécies encontradas e a distribuição da espécie M. inpa na área de estudo, sugerindo que há uma necessidade de estudos ecológicos mais detalhados sobre esses decápodes. 19 6. REFERÊNCIAS BEGON, M.; HARPER, J.L.; TOWNSEND, C.R. Ecology: individuals, populations and communities. Third edition. Blackwell Science, 1996. BELTRAN-PEDREROS, S.; FERREIRA, L. de P.; MESQUITA, A. L. A.; SOUZA, D. P. de; RODRIGUEZ, M. de S. Composição da comunidade de camarões de igarapés da reserva de desenvolvimento sustentável do Tupé, Manaus, Brasil (Amazônia central), 2005. In: 57ª REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 2005, Fortaleza. Livro de Resumos. BUSSING, W. A. & LÓPEZ, M. I. 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CRONOGRAMA DE ATIVIDADES Descrição 2008 2009 Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Levantamento Bibliográfico X X X X X X X X X X X X Coleta de dados X X X X Elaboração de Relatório Parcial X Tabulação dos dados X X X X Análise dos dados X X X Elaboração do Resumo e Relatório Final X Preparação da Apresentação Final para o Congresso X Apresentação Final X